sábado, 20 de março de 2010

A dor da saudade


     Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um beliscão, dóem. Dói morder a língua, dói cólica e cárie. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um amigo(a) que mora longe. Saudade da infância. Saudade de alguém que já morreu. Saudade de uma cidade.
     Dóem essas saudades todas. MAS a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o shopping e ele para a academia, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.
     Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua acordando cedo e passando a manhã inteira com sono. Não saber mais se ela continua com aquelas olheiras. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela aprendeu a dirigir, se ele tem assistido as aulas da faculdade, se ela mudou as fotos do painel do quarto, se ele continua fumando nas festas, se ela continua preferindo Diamante Negro, se ele continua sorrindo *-* , se ela continua ouvindo as mesmas músicas, se ele continua desenhando, se ela continua lhe amando.
     Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos [bem mais compridos], não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
     Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está feliz com outra, se ela está mais magra, se ele está mais bonito, se ela ainda anda cheirosa.
     Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, para tentar amenizar a dor, e ainda assim, pensar nele(a) todos os dias.
E ainda assim, doer.


(Desenhista: Kayo Melo)

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